quarta-feira, 21 de março de 2012

Os delírios de Batatais (ou todo menino é um rei, até o Batatais)

Eu tenho um amigo que chama Paulo. Paulo trabalha numa banca de jornal e, talvez por causa disso, conhece muita gente e tem vários amigos (ou conhecidos) diferentes. Um desses amigos dele "chama" Batatais.

Batatais é um mendigo. Diz ele que é da cidade de Batatais, no interior de São Paulo. Batatais, todos os dias, passa logo cedo pela banca onde Paulo trabalha e diz: "Bom dia, senhores".

Em frente à banca de Paulo, há a banca do Bahia, mas, ao contrário de Paulo, Bahia vende frutas. Todos os dias, antes das 7 da manhã, Bahia já está ali, parado na esquina, vendendo frutas.

Bahia é de uma cidade do interior da Bahia. Largou por lá pais, esposa e filhos, para tentar a vida em São Paulo. E sim, ele conseguiu - na medida do possível. O dinheiro que consegue vendendo frutas é o mesmo que serve para pagar seu pequeno quarto em São Paulo, seu cigarro e as despesas da família na Bahia. Seu último presente para seu filho foi um notebook.

Todos os dias, ao passar pela banca, Batatais ganha de Bahia uma fruta - que pode ser, na verdade, um pedaço de abacaxi, um pedaço de melancia, duas bananas, uma goiaba - e um cigarro. Batatais não pede. Apenas ganha.

Após ganhar seu petit déjeuner, Batatais deita na calçada ao lado da banca e começa a cantar e conversar consigo mesmo em pequenos delírios. Às vezes, comenta sobre as pessoas e os locais que estão por ali - "Ei, você é a Monalisa?", disse para uma moça de cabelos lisos que descia a rua; "Não vai nesse restaurante não porque é cheio de formigas"... às vezes, só canta "Todo menino é um rei, eu também já fui rei...".

Hoje, Batatais me chamou de Camila. Me disse que seu pai fumava 2 maços de cigarro por dia e que hoje é dia da Inconfidência Mineira.

Eu podia usar os delírios de Batatais e escrever um texto bonito e poético, mas não sei fazer isso. Aliás, não sabemos nada sobre Batatais. Só que, todos os dias, ele faz o mesmo caminho carregando sua sacola, parando para conversar com a gente em papos sem nexo, divagando sozinho deitado na calçada e subindo a rua até desaparecer...


quinta-feira, 15 de março de 2012

Couve Premium ou Talharim Grelhado?

Almoçar fora pode se tornar uma aventura gastronômica quando você tem por perto uma dezena de opções para experimentar quando tem dinheiro ou não.

A mesma variedade que proporciona a você uma aventura pode proporcionar situações, no mínimo bizarras, especialmente no quesito "invencionices do chef".

Parece incrível, mas você já percebeu o que as pessoas inventam para chamar sua atenção e transforar um simples macarrão na manteiga em um prato com nome francês ou completamente bizarro que faz você pensar estar almoçando em algum restaurante chiquérrimo na Europa.

Explico: vocês já repararam as coisas que têm no cardápio dos restaurantes? Normalmente, são pratos simples, que você não levaria mais de 15 minutos  nem gastaria mais de 15 reais pra preprar em casa, mas gracas a seus incríveis nomes, você paga mais de 25 reais por eles.

Outro dia, vi numa placa em um restaurante o seguinte: talharim grelhado. Alguém, por favor, poderia me explicar como faz isso porque, sinceramente, minha imaginação não é tão fértil assim.

No restaurante ao lado, o prato do dia era macarrão salteado na manteiga com ervas frescas. Conferi e nada mais era do que macarrão cozido, sem molho, passado na manteiga com 2 folhas de sálvia.

Na Vila Madalena, há um restaurante especializado em bruschettas (cuidado ao ler isso!). Ali você paga por nomes exóticos e come pão com alguma coisa simples em cima. Você vai encontrar coisas como  "bruschetta tapenade de azeitonas pretas", "bruschetta ragù bolognese tradizionale", mas quer mesmo saber o que é? Uma fatia de pão com um monte de azeitona preta em cima ou uma fatia de pão com molho de tomate e carne moída mesmo, bem do tipo que vai no macarrão à bolonhesa de domingo.

Mas o que mais me impressionou no que diz respeito a bizarrices gastronômicas foi uma tal de "couve premium"... "Por 9 reais, você experimenta nossa deliciosa couve premium". Quer dizer, 9 reais pra comer um acompanhamento, sendo que esse acompanhamento é couve... E o que ela tem de premium? Alho. Pois é, ao perguntar o que seria essa tal de "couve premium",  obtive como respostas: "é uma couve puxada no alho" (aliás, tudo que é "puxado em alguma coisa" é mais caro, cuidado com isso... puxado no alho, puxado no azeite...).

Acho que posso parar por aqui.

terça-feira, 13 de março de 2012

Uma garçonete caridosa

Aí, você vai ao restaurante que está acostumada a ir sempre e ele está participando da Restaurant Week. Aí, você vê a garçonete, sempre "super-simpática" com os clientes, participar do seguinte diálogo:

- Olha, senhor, é entrada, prato principal e sobremesa por R$ 31,90, sem bebidas, nem serviço.
- Legal, mas é só R$ 31,90 mesmo, né?
- É, tem mais 1 real que é pra ser doado para a entidade XPTO.
- Mas então é R$ 32,90...
- Olha, senhor, é uma doação...
- Mas eu não sou obrigado a doar, né?
- Não, mas aí vai da consciência de cada um. Quer dizer, o senhor gasta 31 reais comendo do bom e do melhor, entrada, prato principal e sobremesa... que diferença faz doar 1 real?
- Um café, talvez.
- Então... Bom, por que, enquanto o senhor estiver se acabando de comer, não pensa nas milhares de pessoas que não têm o que comer e  se dispõe a doar esse 1 real, hein?
- Já pensei... Vou comer algo do cardápio mesmo, só pra não ter que passar meu almoço pensando nisso, nem ter que fazer essa doação pra sua família.
- Ok, senhor.

Deu vontade de interromper e chamar algum sociólogo para participar da discussão.