terça-feira, 30 de novembro de 2010

O homem que diz “dou” não dá!

O linguista Jacques Moeschler define três domínios de fatos linguísticos – condições que orientam a prática linguística -, os fatos de enunciação, de inferência e instrução. Dentro dos de enunciação, há algo muito interessante que diz respeito aos enunciados performativos (mas que talvez seja apenas mais uma divagação do gnomo psicodélico que mora dentro do meu cérebro).

Sabe quando você diz: “Eu juro que não fiz isso”, “Eu prometo que vou te ligar”?! Isso é um enunciado performativo, pois realiza a ação que nomeia. Atenção que o que acontece, na realidade, é a “realização da ação que nomeia”, não tem nada a ver com o que vem em seguida, o objeto da ação.

Na prática, quando dizemos “Eu juro”, estamos jurando sim, mas isso não implica que o que eu estou jurando seja verdadeiro. O mesmo ocorre com “Eu prometo”; a promessa é feita, mas o objeto da ação não se realiza.

Mas o engraçado é que esses atos não se realizam se não forem enunciados, não se realizam pragmaticamente. Explico: quando eu me levanto de manhã, não preciso enunciar algo do tipo “Eu levanto cedo” para que o ato se realize, ele está lá, realizado na ação, na performance. Nos enuciados performativos, não há exatamente uma performance, há a simples enunciação e nada além disso. Há alguma outra forma de jurar que não seja falando “Eu juro”?

Depois de tudo isso, só posso dizer que sábio mesmo foam Baden e Vinicius ao escreverem “Canto de Ossanha” e dizerem que “O homem que diz ‘dou’ não dá”, entre outras… A música é uma aula do que realmente são enunciados performativos!


Some ou some?



você disse some
e eu somei

eu disse some
e você sumiu
(Marcos Caiado)

E o carnaval tá chegando...

Pois é, o Natal tá aí e depois já vem o Carnaval. Pra quem gosta de axé já ir se preparando pro Carnaval...

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Quem arde de amor tem sede de beleza?

Aprendi com alguém que estética é uma relação que estabelecemos com o mundo por meio da qual adquirimos conhecimentos pelos sentidos. Assim, ao me relacionar com o mundo sensível, descubro do que são feitas as coisas – e pessoas – e do que eu sou feita (pelo prazer ou pela dor, pelo bem ou pelo mal, pelo feio ou pelo belo…). Mas será que isso quer dizer que, como dizem, beleza é fundamental?

Como isso pode ser apenas uma filosofia de botequim e é sempre legal ter bons parceiros à mesa do bar para conversar, recorro ao bom e velho Platão, porque com ele sempre rola um banquete no final…

Platão foi um nobre ateniense seguidor de Sócrates. Sócrates – só pra contextualizar -, um pedreiro (isso mesmo!) que começou a falar em público, questionando, principalmente, o preconceito e talvez seja dessa experiência nada erudita que tenha nascido a filosofia clássica ocidental.

Mas é melhor voltar a Platão pra não perder o foco! Na realidade, ao redor de sua casa de campo, havia um jardim que muitos acreditavam ter sido de um herói da guerra de Troia chamado Academos. Como as pessoas costumavam frequentar esse lugar para “malhar”, ele passou a se chamar “academia” Ali, Platão e outros que costumavam ir pra lá, pois acreditavam que o cuidado com o corpo era indissociável do cuidado com a alma (já disse Spinoza, “A alma é a ideia do corpo”), fundam a Escola de Filosofia Socrática.

A principal herança deixada por Platão, que também era um excelente escritor, é, sem dúvida, seus diálogos, textos que implicam a troca de ideias e são de fácil compreensão, atingindo a todas as pessoas. Neles, questionava não só seus preconceitos, como os preconceitos das outras pessoas.

Acontece que esses diálogos não chegavam à conclusão alguma, apenas questionavam apresentando diversos pontos de vista (é o velho “só sei que nada sei”, apesar de eu achar que, às vezes, saber apenas isso já é saber mais do que o suficiente), e, por isso, chego ao Banquete.

O “Banquete” trata de uma festa em que se fala sobre o belo e trocam-se experiências sobre o amor. Assim, tentando definir o que é o amor, utiliza diversos mitos para tematizá-lo, elevando o amor pela beleza.

Bom, tudo isso pra dizer que o que ficou na minha cabeça de Platão e do Banquete quando li foi uma pergunta: “Quem arde de amor tem sede de beleza?”

Fiquei pensando nisso e outras perguntas apareceram: O que é beleza? Será possível defini-la de forma objetiva? E o amor? Será apenas um sentimento que surge entre as pessoas independente de qualquer outra coisa, inclusive da beleza?

Muito já foi dito sobre o amor: que ele é a procura de algo que nos complete, é “a maior felicidade do mundo”, ou ainda, de forma poética, “amor é bicho instruído”, “é como se as nuvens do horizonte estivessem sob meus pés”, entre outras definições. Pois é, o amor é isto mesmo, um sentimento que surge entre “uma coisa que ama” e uma “coisa amada” – que pode ser um objeto, uma ação, uma pessoa -, um desejo por algo que não se tem, mas se deseja ter para que se alcance a completude.

Mas, e a beleza onde fica? A beleza, por sua vez, poderia ser definida como algo que agrada a todos (ou não), algo bom de se ver e sentir. Ao amar, de certa forma, nosso lado racional dá lugar ao emocional e, assim, nosso conceito de beleza se torna diferente – ao invés de julgarmos como belo ou feio, simplesmente fazemos com que o feio deixe de existir, enxergando apenas o que é belo – o feio continua existindo, porém não emitimos qualquer juízo de valor acerca dele e, aos olhos de quem ama, passa a existir apenas o belo, independente da existência real da beleza. Assim, o amante não tem sede de beleza, pois a beleza é algo que ele já possui de forma completa, já encontrou ao encontrar o amor.

Por outro lado, já dizia o poeta Vinicius de Moraes, em “Receita de mulher”: "As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental". A atração pelo que é belo (aos nossos olhos) é o que primeiro nos impulsiona em direção ao outro, ainda que o fato de a coisa amada te completar, ou não, seja definido posteriormente. O ser humano, na busca por sua completude, sua “cara-metade”, busca, na verdade, algo em que se reconheça, se assemelhe, mesmo que essa semelhança não esteja no físico. Repare como alguém sempre diz: “OK, ele não é bonito, mas é tão inteligente, tão bonzinho,…” – isso mostra que o belo não é aquilo que agrada a todo, mas é um momento em que uma pessoa sente prazer, mas um prazer particular, que reside no outro.

A busca pela beleza é a busca por algo que preencha um vazio, deixado por algo que não se tem, um vazio que só poderá ser preenchido por algo possuído pelo outro. Por isso, quem arde de amor tem sede de beleza sim, pois tem sede de algo que o complete, ainda que a beleza, o que irá tornar o indivíduo completo, sejam palavras, atos, sentimentos…

Será que o que move o amor é a eterna busca pela completude mesmo? Não há como afirmar com total certeza, mas pode-se dizer que essa busca pela completude é o que dá “sabor” ao amor, porque faz com que sempre estejamos buscando algo novo no outro. E sim, esta busca está intimamente ligada à sede de beleza (ainda que seja difícil afirmar isso), pois uma vez que sempre queremos que o outro seja realmente a “tampa da minha panela”, essa minha “tampa” se torna essencialmente bela, ainda que a beleza esteja nos olhos de quem vê, nos meus olhos.

Na subida do morro é diferente...



...porque tem muita gente inocente por ali também e um filme é só um filme.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Atenção, senhores passageiros... Fudeu, mas mantenham a calma...

Eu nunca tive medo de avião, como o Belchior, sempre viajei tranquilamente e só sentia aquele friozinho na barriga natural na hora de decolar ou de pousar. Cheguei até a cogitar a possibilidade de seguir a carreira de comissária de bordo.

Fato é que, apesar de não ter medo de avião, já passei por uma situação que poderia facilmente ter me dado certo pânico. E convenhamos: qualquer situação um pouco "diferente" dentro de um avião planando no céu, com sei lá quantas toneladas e mais de 100 pessoas dentro, pode criar pânico, terror e muita agonia.

Bom, há algum tempo, voltávamos minha mãe, vó, tia e eu de uma viagem de férias na Disney. Tudo muito tranquilo, voo sossegado, filme "O casamento do meu melhor amigo" durante a viagem, nada anormal durante o voo. E foi justamente quando pousamos que se criou certo desespero dentro da aeronave. Uma fumaça parecia sair da turbina, comissárias corriam de um lado para outro com cara de "Fudeu!" e a ordem era "Permaneçam sentados e com os cintos de segurança."

O cheiro de fumaça começou a se alastrar por dentro do avião e as pessoas, que até então estavam sentadas, começaram a se levantar desesperadas, afinal ninguém queria morrer de acidente de avião em terra firme (seria como morrer de parto, depois de fazer tratamento para engravidar durante um ano!).

As aeromoças (que pareciam tão desesperadas quanto os passageiros) não se importavam em dar informação alguma, as portas não eram abertas, enfim estávamos presos, achando que o avião explodiria a qualquer momento e em solo firme!

Estávamos sentadas num banco para quatro pessoas: na janela, uma moça desconhecida que vinha renovar seu visto de estudante; eu, minha mãe e minha vó na ponta, no corredor.

Enquanto todos começavam a se liberar e ir para a porta (que permanecia trancada), numa confusão danada, minha vó não se abalava; permanecia sentada, com olhar tranquilo, como se achasse tudo normal. A moça ao nosso lado, muito pelo contrário, começou a jogar sua bolsa por cima de nossas cabeças e só faltou subir nos bancos para poder sair de lá.

O desfecho da história foi meio que... digamos, sem desfecho. Em um determinado momento, as portas foram abertas. As aeromoças colocaram-se a postos e, com o costumeiro sorriso estampado no rosto e um simpático "Até breve.", despediam-se dos passageiros, que não correspondiam ao sorriso e só pensavam em sair de dentro daquele negócio o mais rápido possível, a não ser minh avó que, toda simpática, despedia-se da tripulação como se tivesse tido uma epifania naqueles quinze minutos anteriores (que pareceram 15 horas!).


segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Meu lamento

A cantora Cláudia Barroso iniciou sua carreira na Jovem Guarda, na década de 1960, e ficou conhecida também por seu romance com Waldick Soriano e por ter sido jurada do Show de Calouros do Silvio Santos.

Legítima cantora de música brega, do tipo que tocava no Cassino do Chacrinha, suas músicas tinham aquele tecladinho brega e falavam de amor, obviamente.

Escrevo sobre ela porque encontrei um de seus sucessos, "Meu lamento", interpretado pela supercompetente Bárbara Eugênia.

A carioca radicada em São Paulo Bárbara Eugênia, além de participar de vários projetos, como o DVD ao vivo "Amigos Invisíveis", de Edgard Scandurra, e o 3naMassa, lançou esse ano o álbum "Jounal de Bad", com músicas que falam de amor, decepções amorosas, tudo parecendo bem autobiográfico.

Em seu disco, em parceiras com Tom Zé, Otto, Junio Barreto, Karina Buhr, entre outros artistas, além de uma banda de primeira, que inclui integrantes do Cidadão Instigado, da banda de Otto, de Júpiter Maçã, entre outras, Bárbara faz um rock que lembra o ritmo nos anos 1950 e 1970, e, talvez por isso, sua versão para "Meu lamento" tenha ficado tão boa.




Para ouvir o "Journal de Bad": http://soundcloud.com/barbara-eugenia

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Conexão PE

"As falas que estou cantando agora, são desenhos que guardei, que tracei com tintas coloridas, que pintei pra você."




Quem ouve músicas como Meu Coração de Arnaldo Antunes, muitas vezes não faz nem ideia de que um de seus autores é o pernambucano Ortinho.

Ouvi Ortinho pela primeira vez num show da Nação Zumbi, em comemoração aos 15 anos de "Da Lama ao Caos", parte do Conexão PE, em setembro de 2009, e, desde então, não consegui mais parar de ouvir.

Wharton Coelho, que já fez parte da banda Querosene Jacaré (mais uma que vale a pena ouvir!), tem dois álbuns gravados, "Somos" e "Ilha do Destino", e acaba de lançar em São Paulo o sensacional "Herói Trancado", que conta com a participação de Jorge du Peixe, além de artistas como Vitor Araújo.

Sua música tem um registro único, misturando maracatu, rock, repente, ciranda, entre outros ritmos, criando músicas que mostram forte influência de Lia de Itamaracá (ouçam!!!), Tom Zé (nem precisa comentar), Júnio Barreto (ouçam!!!), entre outros artistas nordestinos.

Autor da música Sangue de Bairro, junto com Chico Science, criador da trilha do filme "Baile Perfumado", Ortinho infelizmente ainda permanece um pouco desconhecido do público aqui de São Paulo, mesmo fazendo shows pelo menos uma vez por ano por aqui.

Num clima meio iê-iê-iê, Ortinho faz rock clássico, com guitarra, baixo e bateria (e muito da loucura de Ortinho), mas ao mesmo tempo suave, com metais, teclados, sem barulhos, com letras bem escritas e, às vezes, com um suíngue meio brega. Enfim, produzido por Yuri Queiroga (sobrinho de Lula Queiroga), "Herói Trancado" traz canções tão boas quanto Avenida Norte e Cirandagem, porém com um toque a mais.



"Saudades do Mundo", com Jorge du Peixe e Ortinho, do álbum "Herói Trancado"

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A volta ao mundo em 1 hora de almoço

Almoçar sozinha em praça de alimentação faz com que você inevitavelmente preste atenção no que os outros estão comendo (eu já faço isso acompanhada, sozinha então...).

Foi assim que, olhando pra mesa ao lado, percebi o verdadeiro prato "Volta ao mundo".

Dentro do prato raso da mocinha, encontravam-se dispostos cuidadosamente: 3 sushis, macarrão, feijão, esfiha e salada. Ao lado, um potinho de sobremesa com torta holandesa.

Aí eu pergunto: que restaurante vende essa miscelânea de coisas todas juntas?! Isso é um atentado à cuinária típica dos países!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Morada Boa

Até pouco tempo, eu tinha um blog chamado Morada Boa, mas como ninguém lia, resolvi repostar laguns textos de lá aqui e deixá-lo suspenso por algum tempo.

Este foi o primeiro post do Morada Boa, na verdade, uma justificativa ao nome do blog, que foi retirado do título de uma das canções do 3naMassa. Aqui, transformo-o em um post sobre música, sem justificativas, ok?!

Pra quem não conhece, 3naMassa é mais uma das bandas (ou dos projetos) surgidas no Recife, que ultimamente, ao menos pra mim, tem se revelado celeiro de coisas maravilhosas, especialmente no quesito música.

A ideia do 3naMassa é criar música em que as mulheres falam sobre suas experiências amorosas, porém os autores das canções são três homens, que, além de assinarem as composições, ainda compõem a banda: Rica Amabis (do Instituto), Pupillo e Dengue (ambos da Nação Zumbi), entre outros. Nos vocais, se revezam cantoras e atrizes-cantoras, como Thalma de Freitas, Pitty, Leandra Leal, Marina de La Riva, Céu, Karine Carvalho, entre outras.

Bom, dizem que a banda está preparando um novo álbum, mas, com tantos projetos paralelos, como o Almaz (maravilhoso, com Seu Jorge), tô achando que não vai rolar tão cedo.

Então, por enquanto, Morada Boa...

sábado, 13 de novembro de 2010

Pode ou não pode?



Não pode beber, não pode fumar, não pode destruir a natureza, não pode andar em alta velocidade... Não pode nada?! Mas se não pode nada, vai sobrar o que pra fazer?

P.S.: O que é esse barulho de elefante ao fundo?!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Mais uma propaganda da Pepsi...



É o que eu digo sempre: Pepsi, faça propagandas assim no Brasil e eu, a maior consumidora de Coca do planeta, troco a Coca pela Pepsi.