O linguista Jacques Moeschler define três domínios de fatos linguísticos – condições que orientam a prática linguística -, os fatos de enunciação, de inferência e instrução. Dentro dos de enunciação, há algo muito interessante que diz respeito aos enunciados performativos (mas que talvez seja apenas mais uma divagação do gnomo psicodélico que mora dentro do meu cérebro).
Sabe quando você diz: “Eu juro que não fiz isso”, “Eu prometo que vou te ligar”?! Isso é um enunciado performativo, pois realiza a ação que nomeia. Atenção que o que acontece, na realidade, é a “realização da ação que nomeia”, não tem nada a ver com o que vem em seguida, o objeto da ação.
Na prática, quando dizemos “Eu juro”, estamos jurando sim, mas isso não implica que o que eu estou jurando seja verdadeiro. O mesmo ocorre com “Eu prometo”; a promessa é feita, mas o objeto da ação não se realiza.
Mas o engraçado é que esses atos não se realizam se não forem enunciados, não se realizam pragmaticamente. Explico: quando eu me levanto de manhã, não preciso enunciar algo do tipo “Eu levanto cedo” para que o ato se realize, ele está lá, realizado na ação, na performance. Nos enuciados performativos, não há exatamente uma performance, há a simples enunciação e nada além disso. Há alguma outra forma de jurar que não seja falando “Eu juro”?
Depois de tudo isso, só posso dizer que sábio mesmo foam Baden e Vinicius ao escreverem “Canto de Ossanha” e dizerem que “O homem que diz ‘dou’ não dá”, entre outras… A música é uma aula do que realmente são enunciados performativos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário