segunda-feira, 2 de abril de 2012
Como eu fiz amigos bebendo leite
É muito comum encontrar gente dizendo "Nunca fiz amigos bebendo leite". Já teve (ainda deve ter, na verdade) até comunidade no Orkut com o nome "Nunca fiz amigos bebendo leite". Pois é, contrariando isso, eu já fiz amigos bebendo leite.
Eu devia ter uns sete anos e estava na segunda série quando conheci a Juliana. Logo de cara não fui com a cara dela, o que não poderia ser diferente já que, além de ser mais velha do que eu, era do tipo bagunceira, que nenhuma professora queria ter em sua sala de aula...
Morávamos muito perto e íamos e voltávamos de perua juntas. Éramos as primeiras a serem pegas e as últimas a serem entregues, o que facilitou para que começássemos a conversar, mas isso só aconteceu na terceira série. O fato de sermos as últimas a serem entregues - o que fazia com que, eventualmente, chegássemos em casa muito, muito tarde - às vezes, a mãe dela ia buscá-la e me dava uma carona e, às vezes, minha tia ia me buscar, retibuindo a carona.
Não sei como, mas numa dessas caronas, Juliana foi parar na minha casa e o combinado foi que ela dormiria lá e, no dia seguinte depois de almoçarmos, meu avô nos levaria para a escola. Até aí tudo bem, a não ser pelo fato de eu, aos oito anos de idade, ainda tomar mamadeira. Como eu faria para manter meu segredo? E se ela por acaso contasse às outras crianças da sala que eu tomava mamadeira?
Meio contrariada, o jeito foi aceitar a presença daquela menina que não era muito minha amiga na minha casa por uma noite e torcer pra que ela não fosse tão ruim quanto parecia (e quanto a professora dizia).
Chegando a minha casa, depois de termos feito a lição, tomamos banho e começamos a nos preparar para dormir.
Como boa anfitriã, cedi minha cama para ela e deitei num colchão no chão que minha mãe tinha preparado direitinho para mim. Minha mãe, sempre cuidadosa, veio oferecer a nós duas um leitinho antes de dormir. Como eu nunca recusava, aceitei na hora. E qual não foi minha surpresa ao ouvir minha mãe dizer para a Juliana: "O da Poti, eu vou fazer e colocar na mamadeira. Você prefere o seu na mamadeira ou no copo?". Mais surpreendente ainda foi a resposta: "Na mamadeira, tia. Eu também tomo ainda."
Ao ouvir isso, as três se olharam e deram risada... o que eu tentava esconder a muito custo, finalmente podia ser contado e feito às claras.
Graças à mamadeira e à salada de acelga (era a salada preferida da Juliana) da minha vó, ficamos amigas de verdade. Companheiras em passeios, brincadeiras,bagunças na escola, bagunças em casa... E até hoje, apesar de não nos vermos há algum tempo, mantemos contato de alguma forma, ainda que seja virtual, como ela diz "longe dos olhos, mas perto do coração".
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