sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Rainha da sucata

Meu avô era um lixeiro. Não que ele fosse lixeiro por profissão, ele gostava mesmo era de "reciclar, levar coisas que as pessoas achavam inúteis pra casa e quem sabe, um dia, aproveitar.

Assim, não podia ver um monte de entulho na rua, um monte de coisa jogada sem dono, que ia correndo dar uma olhadinha, mexer em alguma coisa, pois quem sabe ali encontrasse um parafuso, um preguinho, um pedaço de madeira, um pedaço de cano...

Chegava em casa sempre com uma madeirinha, uma porca, um parafuso, que, quando a gente menos esperasse, seria usado no conserto de alguma coisa em casa ou no sítio. Ele sempre dizia: "Quem guarda tem", em qualquer circunstância. E ele sempre tinha.

Lembro de uma vez em que ele chegou em casa trazendo uma pilha com uns 10 discos de vinil, obviamente, encontrados no lixo. Confesso que não dei muita bola na hora, mas pouco tempo depois, vi que ali estavam clássicos do funk e do soul da melhor qualidade - Parliament, George Clinton, Marvin Gaye, Al Green, Sly & The Family Stone e outros que eu não lembro o nome, mas ele nem fazia ideia disso.

Certa vez, na volta da escola, ao lado de uma tampa de bueiro estavam vários rolos de fios de cobre, outros fios plásticos e muitos preguinhos, porquinhas, rosquinhas, parafusinhos. Apesar de estar claro que ali estavam pessoas trabalhando dentro da galeria, não tivemos dúvida, nos abaixamos e começamos a catar o máximo de coisas possíveis. Resultado: cheguei em casa com fios de cobre e parafusos dentro da mochila (ainda bem que ele sempre carregou minha mochila!).

Herdei o costume de meu avô. Desde pequena, ele me ensinou a sempre andar prestando bastante atenção, de modo que se encontrasse alguma coisa útil jogada, levasse para casa. Apesar de minha mãe e minha vó que moram comigo odiarem, sou hoje a maior armazenadora de lixos e tranqueiras que ninguém quer.

De recortes de jornal falando sobre como será o planeta em 2010 a envelopes usados no último emprego, passando por catálogos de editoras, parafusos e buchas de prateleiras que não existem, chapas de inox e pedaços de arame usados em trabalhos de faculdade, caixas e até mesmo canudos de diplomas, se precisar de alguma coisa, basta me procurar.


Um comentário:

Pas B. disse...

Lembro que falavam que eu seria economista quando crescesse. Eu costumava guardar dinheiro. Mas aí o Cruzeiro se tornou Cruzeiro Novo, Cruzado, o novo de novo... só no Cruzeiro Real é que minha mãe deu de quebrar o meu porquinho e conferir os valores - ou melhor, exumar a relíquia. Daí que veio meu gosto por arqueologia.