sexta-feira, 23 de julho de 2010

O problema de Paulo Coelho, o Mago (Mago?!)

Em seu novo livro, Paulo Coelho escreve:

"O chão está molhado, imagino que meus tênis tão meticulosamente lavados...
...dois dias antes estarão de novo cheios de lama em mais alguns passos. A minha busca por sabedoria, paz de espírito e consciência das realidades visível e invisível já se transformou em rotina e não dá mais resultado. Quando tinha 22 anos, comecei a me dedicar ao aprendizado da magia. Passei por diversos caminhos, andei à beira do abismo durante anos importantes, escorreguei e caí, desisti e voltei. Imaginava que, quando chegasse aos 59 anos, estaria perto do paraíso e da tranquilidade absoluta..."
(O Aleph, de Paulo Coelho)



Machado de Assis* escreveu:

Algum tempo hesitei se devia abrir estas Memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nacimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
(Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis)



Não há como comprarar Machado de Assis com Paulo Coelho? Então, compare com Lourenço Mutarelli.


O metrô está vazio. Já passa das onze. Júnior carrega a expressão da desilusão e uma pequena mala. Respira com dificuldade pela boca. Seu rosto parece uma máscara. A máscara do desengano. Ou do engano? O maquinista ou uma gravação anuncia a próxima estação. Júnior nunca conseguiu descobrir quem anuncia as estações. Levanta com dificuldade e salta. Caminha de maneira letárgica, mecânica, como se algo o empurrasse, com esforço. Carrega uma pequena mala e quarenta e três anos mal-dormidos. As escadas rolantes já foram desligadas. Júnior escolhe a escada. A cada passo parece brotar um novo degrau. Júnior sobe metade da escadaria e desiste. Senta num degrau. Respira pela boca. Rapidamente surge um segurança e adverte que não é permitido sentar na escada. Júnior estende a mão. O homem, vestido de preto, o ajuda. Júnior termina a escalada com o auxílio do corrimão. Júnior se arrasta por uma rua deserta e mal iluminada. Três garotos surgem das sombras e caminham silenciosos atrás de seus passos. Disparam num repente, derrubando Júnior no meio-fio, e fogem levando a bagagem. Júnior caído na sarjeta, numa água empoçada, com o supercílio aberto. Júnior desata a chorar. Chora sem som e sem lágrima.
(A Arte de Produzir Efeito sem Causa, de Lourenço Mutarelli)



O problema não é uma história ruim, pois até histórias ruins ficam boas, se bem escritas. O problema é não saber trabalhar com as palavras.


* Apesar de reconhecer que ele sim é o MAGO, Machado de Assis não está na lista dos meus escritores favoritos.

Um comentário:

Imira disse...

Ele, "Pauno Coelho", andou perto do abismo... é lamentável o solo firme nessas horas...