sábado, 31 de julho de 2010

O dia em que eu dancei "Don't Cry for Me Argentina" remixado

As aulas de Educação Física, pra mim, sempre foram um terror, como eu já disse aqui alguma vez.

Mas nada foi tão aterrorizante quando, no primeiro colegial, descobri que no Mackenzie havia uma tal de "dancinha", que deveria ser feita pelas meninas, como parte das comemorações do Dia do Mackenzista em outubro.

Sim, o Mackenzie, como escola americana que é, fazia uma dancinha maldita, com direito a bolas, pompons, bastões, fitas, bambolês, pirâmides humanas, alunos formando símbolos e siglas no chão, enfim, toda aquela parafernália que americano gosta.




Assim, no primeiro colegial, fui avisada pela minha amiga Giselle (que era repetente) que era pra eu me esforçar nos ensaios do terceiro bimestre, pois quem conseguia participar da dancinha era liberada das aulas de Educação Física do quarto bimestre. Agora eu, que nunca tinha dançado nem quadrilha na escola (até porque era Adventista, não tinha festa junina), teria que me eforçar pra me livrar das aulas que eu mais odiava pelo menos por um bimestre.

Fui levando a Educação Física, com seus jogos de vôlei, basquete, handball ao longo dos dois primeiros bimestre e, no terceiro, meu objetivo era participar da dancinha.

No primeiro colegial, a ferramenta usada na dança seria o bastão. Meu Deus, o que era aquilo?! Movimentos complexos, dignos de Dayanne dos Santos... Junta bastão, separa bastão, não sei quantos passos pra frente, não sei quantos pro lado, giro para a direita... B 16 cortada!

B16 era minha posição na marcação da dança nos ensaios e ser cortada era ser eliminada da dança. Só as mais toscas e desajeitadas eram eliminadas, já que tínhamos que encher 12 quadras, logo... eu era tosca e desajeitada.

Resultado: nesse ano, assisti à dancinha e teria que fazer a Educação Física no último bimestre. Porém, consegui um atestado, alegando sentir dores nas costas durante os jogos e fui dispensada.

Ser cortada durante os primeiros ensaios não era tão vergonhoso quanto ser cortada pelo Sr. Naim, que armava todo o espetáculo. Ele, que devia ter a idade do Mackenzie, assistia aos ensaios que ocorriam mais perto da apresentação e coordenava tudo do alto do prédio 35. De lá, ele anunciava no microfone: J17 está atrasada, H32 está muito rápida e, o pior, G25 está cortada. Resumindo: além de passar pela situação ridícula de ter de dançar de saia pregueada brancae blusa branca com M vermelho bem grande, na frente de quase todos os alunos do Mackenzie (inclua aqui berçário até pós-graduação) e familiares, você ainda corria o risco de ser cortada na frente de todos os alunos que estavam passando pela quadra durante os ensaios - que aconteciam após as aulas da turma da manhã.

No segundo ano, eu já estava um pouco mais esperta e resolvi que ia participar da dancinha a qualquer custo.

Consegui passar da fase da quadra coberto, onde ainda treinávamos sem música, apenas durante as aulas de Educação Física, e fui para os ensaios externos, com música.

A trilha sonora escolhida: uma versão remixada de "Don't Cry for Me Argentina", daí já se vê o que me esperava.

A dancinha daquele ano seria com fitas e as meninas teriam de usar calça branca e a tal blusa do Mackenzie... Ao final, formaríamos juntas o símbolo do Mackenzie e a sigla FLE, em comemoração a não sei quantos anos da Faculdade de Letras e Educação.

O Dia do Mackenzie era realmente coisa de filme americano e, naquele ano, eu participei da cena mais importante e esperada pelos pais: a dancinha, com direito a fitas jogadas para o alto e ao grito de guerra - M! A! C! K! E! N! Z! I! E! MACKENZIEEEE!.

Segundo a minha mãe que chegou ao final da apresentação - viu tudo do fundo da quadra, menos eu, já que, por ser meio alta, fui colocada na fileira B novamente (as mais baixinhas ficavam pra trás), onde só as mães que conseguiam sentar na arquibancada enxergavam -, foi lindo.

Lindo mesmo foi não ter que fazer educação física no quarto bimestre, já que não tinha conseguido a dispensa.

Agora, eu só me preocupava com a dança do terceiro ano e até estava um pouco empolgada, me sentindo a Ana Botafogo... Enfim, eu vesti a personagem, tava até achando legal o negócio, e resolvi que, no terceiro ano, estaria lá de novo, mostrando todo meu talento!

Mas.. a mesma Giselle, que me contou que a dancinha era obrigatória, me disse que as meninas do terceiro (a não ser as do magistério que faziam o colegial em quatro anos) não participavam porque precisavam estudar pro vestibular. E agora, como assim eu não iria dançar? Por que as meninas do magistério podiam? E o que fazer com as aulas que me perseguiam?

A tristeza por não participar da dancinha passou rápido e logo ela se tornou ridícula pra mim novamente. Sobrava apenas a preocupação com as aulas de Educação Física, mas, graças a minha prima Vera, isso foi resolvido logo: dor nas costas e mais uma dispensa.

Hoje, o Dia do Mackenzista é mais glamuroso, tem fogos, pirotecnias, acontece à noite, em um dos auditórios, ninguém fica derretendo no sol, provavelmente o Naim e as tiazinhas de 180 anos que davam aulas de Educação Física já morreram... E eu não consigo (nem quero) me imaginar fazendo uma coreografia com fitas ao som de uma versão remix de "Don't Cry for Me Argentina". Mas até que foi divertido!

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