segunda-feira, 12 de julho de 2010

Ei, meu amigo Charlie Brown...

Sempre achei o Benito di Paula meio esquisito, mas o engraçado é que, por mais que o achasse estranho, sua imagem de paletozinho cinza, tocando piano e entoando versos como “Ei, meu amigo Charlie Brown” nunca saíram da minha cabeça. Talvez isso tenha acontecido por causa do Charlie Brown, do Snoopy, mas acho que não...

Quando eu era pequena, muitas tardes de domingo eram passadas na casa da “Tia Neyde”. Ela nunca foi minha tia, era prima, mas por ser mais velha do que eu, naturalmente, virou “tia”.

A casa ficava (fica ainda) na Lapa e lá reuniam-se os primos em volta da mesa da cozinha para conversar (o que incluía principalmente falar mal de uma boa parte da família que não estava presente), batucar, cantar, comer, beber (e isso eles faziam muito!), etc.

A reunião não se limitava à cozinha e ia para o quintal, onde ficavam estacionados os carros e onde eu e meus primos da mesma idade brincávamos na rampa que ia em direção à rua, na laje, na parte de cima, onde havia um pé de alguma coisa – se eu não me engano jaboticaba – e uma balança, feita pelo Tio Zé (que também não era tio, era primo).

Além das crianças, os mais velhos também iam para fora e sentavam na rampa, onde cantavam – muitos bêbados, outros nem tanto – e continuavam a conversar...

A reunião de domingo não se limitava à família e a vizinhança, bem conhecida por eles, também costumava participar com personagens inusitados e, aqui, entra o Benito di Paula.

Entre os vizinhos – a solteirona do lado, Nancy; o alemão amigo do Tio Damas, o patriarca da família, conhecido pelo apelido Schön... Mas era justamente no fim da tarde, na hora da “Porta da esperança”, do Silvio, que chegava também a Vi, namorada do Tio Damas, e ele, o "meu" Benito di Paula, oops, o Tom.

O Tom sempre foi uma figura, no mínimo, esquisita. Sempre magrinho, cabelos grisalhos, com seu paletozinho cinza, sapatos pretos e camisa branca, ele aparecia nessas reuniões, como se fosse da família e participava de todas as conversas, fumando seu cigarrinho, contando histórias difícies de entender, pois o que ele falava em estado normal já era difícil, bêbado então...

Fato é que nunca vi o Tom cantar, nunca vi tocar piano, e ele sequer falava no Charlie Brown, mas era olhar pra ele e ver Benito di Paula. Na verdade, eu sempre tive a certeza de que ele era realmente o Benito e até achava legal ele ir ao meu aniversário, viajar com a gente (eu acho que ele viajou uma vez, mas não lembro), tipo: “O Benito di Paula foi ao meu aniversário, não é o máximo?!”

Enfim, o tempo passou, as reuniões aos finais de semana pararam de acontecer, Tio Damas e Vi faleceram, Tio Zé mudou, Tia Neyde mudou, não dá mais pra ficar sentada na rampa brincando, a “Porta da Esperança” não passa mais, Tom sumiu e, com ele, Benito di Paula.

Na realidade, outro dia, ele apareceu na TV, mas não era mais o mesmo, faltava o piano, o paletozinho, parecia mais um velhinho decrépito do que o amigo do Charlie Brown... Talvez seja porque o meu Benito di Paula nunca tenha sido aquele da TV, mas só o nosso amigo Tom.

Nenhum comentário: