sábado, 31 de julho de 2010

Políticos no busão



Adoro cara de político andando de ônibus.

O dia em que eu dancei "Don't Cry for Me Argentina" remixado

As aulas de Educação Física, pra mim, sempre foram um terror, como eu já disse aqui alguma vez.

Mas nada foi tão aterrorizante quando, no primeiro colegial, descobri que no Mackenzie havia uma tal de "dancinha", que deveria ser feita pelas meninas, como parte das comemorações do Dia do Mackenzista em outubro.

Sim, o Mackenzie, como escola americana que é, fazia uma dancinha maldita, com direito a bolas, pompons, bastões, fitas, bambolês, pirâmides humanas, alunos formando símbolos e siglas no chão, enfim, toda aquela parafernália que americano gosta.




Assim, no primeiro colegial, fui avisada pela minha amiga Giselle (que era repetente) que era pra eu me esforçar nos ensaios do terceiro bimestre, pois quem conseguia participar da dancinha era liberada das aulas de Educação Física do quarto bimestre. Agora eu, que nunca tinha dançado nem quadrilha na escola (até porque era Adventista, não tinha festa junina), teria que me eforçar pra me livrar das aulas que eu mais odiava pelo menos por um bimestre.

Fui levando a Educação Física, com seus jogos de vôlei, basquete, handball ao longo dos dois primeiros bimestre e, no terceiro, meu objetivo era participar da dancinha.

No primeiro colegial, a ferramenta usada na dança seria o bastão. Meu Deus, o que era aquilo?! Movimentos complexos, dignos de Dayanne dos Santos... Junta bastão, separa bastão, não sei quantos passos pra frente, não sei quantos pro lado, giro para a direita... B 16 cortada!

B16 era minha posição na marcação da dança nos ensaios e ser cortada era ser eliminada da dança. Só as mais toscas e desajeitadas eram eliminadas, já que tínhamos que encher 12 quadras, logo... eu era tosca e desajeitada.

Resultado: nesse ano, assisti à dancinha e teria que fazer a Educação Física no último bimestre. Porém, consegui um atestado, alegando sentir dores nas costas durante os jogos e fui dispensada.

Ser cortada durante os primeiros ensaios não era tão vergonhoso quanto ser cortada pelo Sr. Naim, que armava todo o espetáculo. Ele, que devia ter a idade do Mackenzie, assistia aos ensaios que ocorriam mais perto da apresentação e coordenava tudo do alto do prédio 35. De lá, ele anunciava no microfone: J17 está atrasada, H32 está muito rápida e, o pior, G25 está cortada. Resumindo: além de passar pela situação ridícula de ter de dançar de saia pregueada brancae blusa branca com M vermelho bem grande, na frente de quase todos os alunos do Mackenzie (inclua aqui berçário até pós-graduação) e familiares, você ainda corria o risco de ser cortada na frente de todos os alunos que estavam passando pela quadra durante os ensaios - que aconteciam após as aulas da turma da manhã.

No segundo ano, eu já estava um pouco mais esperta e resolvi que ia participar da dancinha a qualquer custo.

Consegui passar da fase da quadra coberto, onde ainda treinávamos sem música, apenas durante as aulas de Educação Física, e fui para os ensaios externos, com música.

A trilha sonora escolhida: uma versão remixada de "Don't Cry for Me Argentina", daí já se vê o que me esperava.

A dancinha daquele ano seria com fitas e as meninas teriam de usar calça branca e a tal blusa do Mackenzie... Ao final, formaríamos juntas o símbolo do Mackenzie e a sigla FLE, em comemoração a não sei quantos anos da Faculdade de Letras e Educação.

O Dia do Mackenzie era realmente coisa de filme americano e, naquele ano, eu participei da cena mais importante e esperada pelos pais: a dancinha, com direito a fitas jogadas para o alto e ao grito de guerra - M! A! C! K! E! N! Z! I! E! MACKENZIEEEE!.

Segundo a minha mãe que chegou ao final da apresentação - viu tudo do fundo da quadra, menos eu, já que, por ser meio alta, fui colocada na fileira B novamente (as mais baixinhas ficavam pra trás), onde só as mães que conseguiam sentar na arquibancada enxergavam -, foi lindo.

Lindo mesmo foi não ter que fazer educação física no quarto bimestre, já que não tinha conseguido a dispensa.

Agora, eu só me preocupava com a dança do terceiro ano e até estava um pouco empolgada, me sentindo a Ana Botafogo... Enfim, eu vesti a personagem, tava até achando legal o negócio, e resolvi que, no terceiro ano, estaria lá de novo, mostrando todo meu talento!

Mas.. a mesma Giselle, que me contou que a dancinha era obrigatória, me disse que as meninas do terceiro (a não ser as do magistério que faziam o colegial em quatro anos) não participavam porque precisavam estudar pro vestibular. E agora, como assim eu não iria dançar? Por que as meninas do magistério podiam? E o que fazer com as aulas que me perseguiam?

A tristeza por não participar da dancinha passou rápido e logo ela se tornou ridícula pra mim novamente. Sobrava apenas a preocupação com as aulas de Educação Física, mas, graças a minha prima Vera, isso foi resolvido logo: dor nas costas e mais uma dispensa.

Hoje, o Dia do Mackenzista é mais glamuroso, tem fogos, pirotecnias, acontece à noite, em um dos auditórios, ninguém fica derretendo no sol, provavelmente o Naim e as tiazinhas de 180 anos que davam aulas de Educação Física já morreram... E eu não consigo (nem quero) me imaginar fazendo uma coreografia com fitas ao som de uma versão remix de "Don't Cry for Me Argentina". Mas até que foi divertido!

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Reality Show

"Você estudou em colégios caríssimos, fez faculdade, mestrado, doutorado. Mas quem vai decidir se você é bom ou não, é um RH."
(via Twitter @bomdiaporque)

Comer, comer...

Eu sempre tive problemas com comida. Nunca gostei muito de nada, sempre fui enjoada, sempre comi pouco - do tipo que ou comia o cheeseburguer ou a batata frita, sabe, que não dava conta de comer o McLanche Feliz...

Certa vez, minha tia ganhou uma promoção do American Express que dava direito a um almoço com acompanhante num hotel chiquérrimo. O prato que seria servido era paella.



Lá fomos eu (que devia ter uns sete anos), minha mãe e minha tia, todas arrumadas, com vestidos, sapatos...

Toda chique, sentei e vi à minha frente uma infinidade de copos e talheres, o que já me deixava com certo pânico. Graças a Deus, enquanto esperávamos o prato, fui carinhosamente apresentada pela minha mãe a todas as ferramentas que seriam utilizadas ali.

Tudo ia muito bem e eu parecia ter esquecido que estava ali para um almoço. Até que vejo diante dos meus olhos um prato enorme, com uma montanha de paella maior ainda, em que eu via perninhas e coisas esquisitas por todos os lados, e, pra completar, olhavam fixamente pra mim dois lagostins que ocupavam o topo da montanha.

Não sei o que se passou pela minha cabeça naquele momento, mas no mínimo foi algo do tipo: "Meu Deus, vou ter que comer tudo isso? E o que esse bicho faz aí em cima?". Só sei que comecei a chorar desesperada, deixando minha mãe, tia e até o garçom sem saber o que fazer.

Resultado: o garçom teve de retirar o prato da minha frente e trazer bem menos quantidade, num prato de sobremesa e sem lagostim. Mas não teve jeito, não comi.

Graças a essa história, sou motivo de piada sempre que vou comer: "Não vai chorar, hein?!", mas eu não ligo. Na verdade, já me acostumei. E poderia até fazer um Top 10 Hora do Almoço:

1. Não vai chorar, hein?

2. Vai comer só isso? Não vai se engasgar!

3. Você nem devia almoçar...

4. Desse jeito vai dar prejuízo!

5. Não dá nem gosto fazer comida pra você.

6. Come mais um pouco, só mais um pouco...

7. Você não gostou da comida?

8. Ah, tudo isso pra não engordar?!

9. Nossa, Poti, que pouquinho.

10. Desse jeito, essa sua anemia vai virar leucemia.

Na verdade, ouvir isso da família, dos amigos mais próximos, ainda dá pra relevar, levar na brincadeira, mas... quando você ouve isso de pessoas que nunca conversaram mais de uma hora com você, dá vontade de recitar palavrões em vários idiomas.

Aí, eu me pergunto: por que as pessoas não cuidam de seus próprios pratos?! Eu não fico dizendo pras outras pessoas, coisas do tipo:

1. Vai comer tudo isso?!

2. Meu Deus, desse jeito você vai explodir!

3. Faz tempo que você não come?

4. Para de comer!

5. Outro prato de lasanha?!

6. Olha o colesterol...

7. Desse jeito, vai acabar a comida.

8. Veio da Somália?

9. Cadê você? Tá atrás do monte de arroz?

10. Você devia comer menos para emagrecer.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A diferença entre recheio e cobertura

ATENÇÃO!

Só pra constar...

Pizza não tem recheio. Pizza tem cobertura.

Pastel, torta, empanada, empada, coxinha, isso tem recheio.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O problema de Paulo Coelho, o Mago (Mago?!)

Em seu novo livro, Paulo Coelho escreve:

"O chão está molhado, imagino que meus tênis tão meticulosamente lavados...
...dois dias antes estarão de novo cheios de lama em mais alguns passos. A minha busca por sabedoria, paz de espírito e consciência das realidades visível e invisível já se transformou em rotina e não dá mais resultado. Quando tinha 22 anos, comecei a me dedicar ao aprendizado da magia. Passei por diversos caminhos, andei à beira do abismo durante anos importantes, escorreguei e caí, desisti e voltei. Imaginava que, quando chegasse aos 59 anos, estaria perto do paraíso e da tranquilidade absoluta..."
(O Aleph, de Paulo Coelho)



Machado de Assis* escreveu:

Algum tempo hesitei se devia abrir estas Memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nacimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
(Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis)



Não há como comprarar Machado de Assis com Paulo Coelho? Então, compare com Lourenço Mutarelli.


O metrô está vazio. Já passa das onze. Júnior carrega a expressão da desilusão e uma pequena mala. Respira com dificuldade pela boca. Seu rosto parece uma máscara. A máscara do desengano. Ou do engano? O maquinista ou uma gravação anuncia a próxima estação. Júnior nunca conseguiu descobrir quem anuncia as estações. Levanta com dificuldade e salta. Caminha de maneira letárgica, mecânica, como se algo o empurrasse, com esforço. Carrega uma pequena mala e quarenta e três anos mal-dormidos. As escadas rolantes já foram desligadas. Júnior escolhe a escada. A cada passo parece brotar um novo degrau. Júnior sobe metade da escadaria e desiste. Senta num degrau. Respira pela boca. Rapidamente surge um segurança e adverte que não é permitido sentar na escada. Júnior estende a mão. O homem, vestido de preto, o ajuda. Júnior termina a escalada com o auxílio do corrimão. Júnior se arrasta por uma rua deserta e mal iluminada. Três garotos surgem das sombras e caminham silenciosos atrás de seus passos. Disparam num repente, derrubando Júnior no meio-fio, e fogem levando a bagagem. Júnior caído na sarjeta, numa água empoçada, com o supercílio aberto. Júnior desata a chorar. Chora sem som e sem lágrima.
(A Arte de Produzir Efeito sem Causa, de Lourenço Mutarelli)



O problema não é uma história ruim, pois até histórias ruins ficam boas, se bem escritas. O problema é não saber trabalhar com as palavras.


* Apesar de reconhecer que ele sim é o MAGO, Machado de Assis não está na lista dos meus escritores favoritos.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Como se sentir namorando sem estar

1. Entre no Orkut (é praticamente o início do namoro): fale o que gosta de comer, ler, fazer, pra onde gosta de ir, o que gosta de ouvir, quem é seu par perfeito, o que te atrai...

2. Entre no Skoob (só pra impressionar mais um pouco seu par): diga o que você está lendo.

3. Entre no Foursquare (começou): diga onde você está.

4. Entre no Twitter (aqui, você já está namorando): seja seguido e conte tudo que você está fazendo.

5. Entre no Facebook (pode ser a concretização ou, definitivamente, o fim do seu namoro): diga o que você está pensando.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Ar-condicionado em local de trabalho é...

Então, lembra de "Amar é..."?

Fiz a minha versão...

Ar-condicionado em local de trabalho é motivo de discórdia, não importa onde você trabalhe.

Ar-condicionado em local de trabalho é algo que nunca vai agradar a ninguém, calorentos nem friorentos.

Ar-condicionado em local de trabalho é ter que trabalhar de blusa no verão e sem blusa no inverno.

Ar-condicionado em local de trabalho é ir do mais quente verão senegalês ao mais frio inverno da Sibéria.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Rap é compromisso

O rap sempre foi ignorado pelos veículos de comunicação e pela sociedade em geral. Agora, o Estadão diz que ele está em crise. Como assim?

Pra quem não sabe o rap é um dos elementos do Movimento Hip Hop, que teve origem nos Estados Unidos paralelamente ao Movimento dos Direitos Civis. A ideia era, além de divulgar o que acontecia nos "guetos" - locais habitados por afro-americanos, hispânicos, enfim imigrantes legais ou não -, promover uma disputa entre gangues que acabaram por se formar nesses locais, porém utiliando a arte e a criatividade.

Kool Herc, considerado o pai do hip hop, foi o responsável para o desenvolvimento do DJ. Nascido na Jamaica, trouxe para as block parties do Bronx os tradicionais Soundsystem, que inicialmente tocavam reggae, soul e funk. Foi ele o primeiro a usar dois toca-discos e a girar os pratos pra frente e pra trás, além de usar o microfone para animar as festas, receber os amigos, como um mestre de cerimônias (daí o MC), dando uma nova cara à música.

Graças a essas quebras nas músicas, causadas pelas pausas nos toca-discos e nos giros, surge também um novo jeito de dançar: o break, dança em que os artistas quebram movimentos de acordo com a batida.

Até então, os elementos seguiam isolados, cada um em seu estilo.

Foi Afrika Bambaataa, DJ e criador da Zulu Nation, porém o responsável pela reunião dos elementos dos dos elementos da cultura hip hop e pela organização do hip hop como movimento cultural. O objetivo era tirar o caráter negativo das gangues e das disputas entre elas (que já tomava proporções maiores, saindo do gueto e tornando-se uma disputa entre Costa Leste e Costa Oeste americanas) e fazer com que cada um pudesse mostrar suas habilidades artísticas da melhos maneira. Óbvio que, desse modo, a disputa saía, em parte, das armas e se tornava uma disputa de ideias, de criatividade, enfim...

No Brasil, o movimento só chegou na década de 1980, principalmente por meio da dança e de artistas internacionais como Michael Jackson, que trouxe passos do break. Assim, passaram a ser promovidos bailes pela Chic Show, Black Mad e Zimbabwe, além das tradicionais rodas de break da São Bento, o que fez com que a procura pelas músicas dos bailes aumentasse.

Consequentemente, mais tarde, surgiriam Thaíde e DJ Hum (que já participavam das primeiras rodas de break da São Bento), Mc Jack, Pepeu, Racionais, primeiros artistas a gravarem rap em vinil no Brasil.

Fato é que, no Brasil, o movimento hip hop, não só o rap, esteve sempre legado ao underground. Nunca foi categoria de prêmio (a não ser pra mostrar "Olha, os Racionais não aparecem em lugar nenhum, mas vão aparecer na MTV esse ano"), nunca esteve na TV, nunca esteve no rádio (a não ser nas rádios pirata), nunca esteve nas grandes casas de show, enfim "nunca nada", por isso quando o Estadão afirma que o rap está em crise, acho um engano.

O rap continua aí, cumprindo seu papel de disputar ideias com criatividade, ainda que poucos fiquem sabendo.

Sim, como diz a matéria, esse ano não haverá o tradicional Indie Hip Hop no Sesc Santo André, mas... no dia 16 de julho, em Jacareí, aconteceu a Rua do Flow, com batalha de MCs, lançamento de CD do Marechal... a partir de 29 de julho, o Sesc Ribeirão Preto promove um Festival de Cultura Hip Hop.

E aí, o rap tá em crise?

Kamau e E.M.I.C.I.D.A não param de fazer show. E aí, o rap tá em crise?

Condenaram o assassino de Sabotage
. E aí, o rap tá em crise?

Culto Racional, Face da Morte, Ments Criminals, DBS lançaram CD e música nova. E aí, o rap tá em crise?

Elo da Corrente, KL Jay, MZK, Rincon Sapiencia, Funk Buia, Sombra, Sandrão, Rashid e muitos outros têm feitos shows toda semana no centro de São Paulo, como na Matilha Cultural, no Bleecker, etc. E aí, o rap tá em crise?

No Ibirapuera, está rolando uma exposição de arte urbana contemporânea, reunindo os principais grafiteiros da atualidade. Na Matilha Cultural, está em cartaz a mostra Urbanidades que apresenta produções audiovisuais ligadas ao s temas do hip hop , do cinema ao pixo, passando pela música, dança, questões sociais. E aí, o rap tá em crise?

Em agosto, ocorre mais uma vez o Prêmio Hutuz. E aí, o rap tá em crise?

E agora?

Na verdade, acho o que o Estadão tentou fazer foi colocar periferia contra periferia (não sei a troco de quê, mas...), afinal funk e rap têm origens parecidas, são manifestações feitas na periferia para a periferia, e cada um ouve o que quer, ouvir uma coisa não exclui a outra! Ou, simplesmente, como fazem sempre, fizeram mais uma matéria sem o mínimo de embasamento, nenhuma pesquisa, nenhum conhecimento antes de falar. Uma lida rápido no Central Hip Hop, no Rap Nacional, e a matéria teria sido sobre como o rap sobrevive sem aparecer, não?

Não ser o 50 Cent ("50 cent? Não dou 1 real. Sou mais o Rap Nacional." Sérgio Vaz), não ser o que são os rappers americanos, não representar financeiramente o que eles representam, estar fora da mídia, não significa que o rap esteja em crise. Se fosse assim, ele já teria nascido em crise no Brasil.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Questionário de Proust

Meu primeiro emprego de verdade foi há uns seis anos numa grande livraria de São Paulo. Digo emprego de verdade porque, na época, ainda que eu fosse uma das seis etagiárias de Eventos/Divulgação, já era tratada como se fosse efetivada, com as mesmas responsabilidades e cobranças de qualquer outro funcionário da empresa.

Foi nesse lugar que certa vez, após voltar do almoço, abri meu correio interno e deparei com uma mensagem com o assunto "Questionário de Proust", vinda de um dos vendedores. Como nossa atividade exigia certo contato com os vendedores, imaginei que seria mais um dos 150 mil pedidos "Favor colocar capa e sinopse no produto" que recebíamos diariamente e abri, realmente, disposta a atender o pedido do nosso querido colega de trabalho.

Mas qual não foi minha surpresa ao ver que a mensagem não era exclusiva para mim, mas havia sido encaminhada para TODOS os colaboradores, o que incluía diretores, RH, fiscal, financeiro...

A ideia do infeliz era que todos respondessem e encaminhassem de volta, como numa corrente, lotando caixas de correio com baboseiras alheias coletivas (prática que logo foi eliminada, graças a um simpático correio do nosso também simpático RH, informando no que isso acarretaria).

Como boa antissocial que sou, completei o questionário e encaminhei para encher o saco de apenas uma pessoa que trabalhava comigo e que seria uma das poucas a entender que sim, eu estava zoando e que não, eu não gosto de Paulo Coelho (lembro que na época, por conta disso, fui até parar no blog dela - não foi nesse do link, foi em outro, mas enfim...).



Questionário de Proust

01.Qual é sua maior qualidade?
R- Humildade

2. E seu maior defeito?
R- Não ter defeitos

3. A coisa mais importante em um homem?
R- Vou considerar o Pedro nessa resposta, ok?! Que ele siga os preceitos do Mestre DeRose (ou do Sai Baba se você preferir)*

04. E em uma mulher?
R- Ser como eu.

05. O que você mais aprecia nos seus amigos?
R- Eles serem meus amigos.

06. Sua atividade favorita é...
R- Dormir e hatha yoga (pronuncia-se yôga, ok?!) tântrica.

07. Qual é sua idéia de felicidade?
R- Esse ambiente não me permite ter idéias.**

08 . E o que seria a maior das tragédias?
R-Esqueça as vítimas do tsunami, esqueça a tragédia de New Orleans e trabalhe um dia no meu lugar.**

09. Quem você gostaria de ser, se não fosse você mesmo?
R- Meu clone

10.E onde gostaria de viver?
R- Em South Park

11.Qual sua cor favorita?
R- Fúcsia

12.Sua flor?
R- Flor de Lótus

13.Um pássaro?
R- Homem-pássaro

14.Seus autores preferidos?
R- O mago Paulo Coelho, todos de 'Bianca', 'Angélica' e 'Sabrina', Lair ribeiro

15.E os poetas de que mais gosta?
R- Os que vendem livros no MASP e na porta do cinema

16.Quem são seus heróis de ficção?
R- Irmãos Coragem, Capitão Caverna e Caverninha

17.E as heroínas?
R- Tieta, Dona Flor e Vovó Mafalda

18.Seu compositor favorito é...
R- Latino, Bete Guzo e Amado Batista

19.E os artistas que você mais curte?
R- Os das novelas Maria do Bairro e Floribella

20.Quem são suas heroínas na vida real?
R- Tia Sara e suas amigas**

21.E quem são seus heróis?
R- Motoristas do Terminal Sto. Amaro 669-A

Peraí, a Mangá*** baixou em mim...

22.Qual é sua palavra favorita?
R- Tipo assim, cara, minha palavra favorita é... só...

23.O que você mais detesta?
R- Só ter amigas lindas, mas não ser linda.

24.Quais são os personagens históricos que você mais despreza?
R- O Collin Farrell, como Alexandre, ficou pééééésssssssimoooo!!!!

Agora, sou eu de novo.

25.Quais os dons da Natureza que você gostaria de possuir?
R- Primeiro preciso procurar saber quais são os dons da natureza.

26.Como você gostaria de morrer?
R- Se eu for morrer - o que não acontece com seres imortais como eu - que seja com direito a acompanhante e uma coca gelada.

27.Agora, já, como você está se sentindo?
R- Idiota por ter escrito tanta besteira sem necessidade e estou sentindo também que tem alguém querendo me bater por ter lido todas as bobagens.

28.Que defeito é mais fácil perdoar?****
R- Escrever tanta bobagem.

29.Qual é o lema da sua vida?
R- Se é vida loka, é né jão não é facil não, as vezes na Diogo se pá té na Fundão, que tem tô enquadrado, com a mão pro alto, gambé inda vem fala que eu sou forgado.

Meu, acho que tinha droga na minha empadinha!*****


Algumas explicações necessárias:

* Pedro era um garoto que fazia Publicidade comigo e tinha certa "admiração" por mim. Apesar de bonitinho e simpático, ele costumava usar camisetas estampadas com Ganeshas, Krishnas e outros indianos zen!

** Sim, na época, ninguém estava muito satisfeito com o ambiente e o clima do trabalho. Tia Sara foi o apelido carinhoso que dei a nossa chefe, que andava sempre acompanhada de suas amigas (Água de salsicha e a outra... não lembro!), como se fosse uma adolescente. E, como toda adolescente, no final, foi traída por uma delas e teve seu tapete carinhosamente puxado.

*** Mangá foi o apelido que encontrei para dar a uma das estagiárias que trabalhavam comigo (na verdade, grande parte delas tinham apelidos, como fazendeira hippie, Carrie, a estranha, e por aí vai... ). A Mangá, estudante de Letras da USP, usava 95% de gírias e era membro da comunidade do Orkut "Só tenho amigas lindas, mas não sou linda", enfim....

**** Nessa resposta, acho que tentei induzir minha amiga que leu o questionário inteiro a me perdoar por fazer com que ela perdesse tempo lendo isso.

***** Devo ter ido almoçar na Empada Brasil naquele dia. (rs...)

Pensando bem agora... Eu deveria atualizar essas respostas!

terça-feira, 13 de julho de 2010

Um doce aroma de morte

Definitivamente, o tema de hoje é morte!

Comecei a ler "Um doce aroma de morte", do Guillermo Arriaga, que, óbvio, conta a história de um assassinato.

Liguei a TV e descobri que morreu o jazzista Paulo Moura.

No ônibus, o cobrador falava com o motorista sobre a morte de Elisa Samudio e da advogada Mércia.

Chego na agência, a conversa gira em torno da "Consoleta", região de São Paulo próxima ao Cemitério da Consolação, que, como a Recoleta, se tornou um local que reúne pessoas "descoladas", restaurantes "descolados", enfim... Mas a conversa descambou para o outro lado da rua e caiu nos túmulos do cemitério, indo parar no incêndio do Edifício Joelma - onde antes era uma casa em que parece que o filho assassinou o pai -, passsando pelas assombrações da Casa de Dona Yayá...

Enfim, tudo isso num só dia, o Dia Mundial do Rock. Será um sinal? O rock morreu? Eu não sei, mas se os mesmos caras que fizeram e cantaram "Rock n' Roll High School" vissem o que se vê hoje por aí - Fresno, NxZero, Restart, Hori, Justin Bieber -, numa época em que ao invés de morrerem de overdose, os roqueiros correm o risco de morrer eletrocutados pela chapinha no cabelo úmido, acho que agora estariam cantando "Rock is Dead", do Marilyn Manson.




* Só pra reforçar: Leiam "Chega de rock mela cueca" no site de China (http://www.chinaman.com.br/).

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Ei, meu amigo Charlie Brown...

Sempre achei o Benito di Paula meio esquisito, mas o engraçado é que, por mais que o achasse estranho, sua imagem de paletozinho cinza, tocando piano e entoando versos como “Ei, meu amigo Charlie Brown” nunca saíram da minha cabeça. Talvez isso tenha acontecido por causa do Charlie Brown, do Snoopy, mas acho que não...

Quando eu era pequena, muitas tardes de domingo eram passadas na casa da “Tia Neyde”. Ela nunca foi minha tia, era prima, mas por ser mais velha do que eu, naturalmente, virou “tia”.

A casa ficava (fica ainda) na Lapa e lá reuniam-se os primos em volta da mesa da cozinha para conversar (o que incluía principalmente falar mal de uma boa parte da família que não estava presente), batucar, cantar, comer, beber (e isso eles faziam muito!), etc.

A reunião não se limitava à cozinha e ia para o quintal, onde ficavam estacionados os carros e onde eu e meus primos da mesma idade brincávamos na rampa que ia em direção à rua, na laje, na parte de cima, onde havia um pé de alguma coisa – se eu não me engano jaboticaba – e uma balança, feita pelo Tio Zé (que também não era tio, era primo).

Além das crianças, os mais velhos também iam para fora e sentavam na rampa, onde cantavam – muitos bêbados, outros nem tanto – e continuavam a conversar...

A reunião de domingo não se limitava à família e a vizinhança, bem conhecida por eles, também costumava participar com personagens inusitados e, aqui, entra o Benito di Paula.

Entre os vizinhos – a solteirona do lado, Nancy; o alemão amigo do Tio Damas, o patriarca da família, conhecido pelo apelido Schön... Mas era justamente no fim da tarde, na hora da “Porta da esperança”, do Silvio, que chegava também a Vi, namorada do Tio Damas, e ele, o "meu" Benito di Paula, oops, o Tom.

O Tom sempre foi uma figura, no mínimo, esquisita. Sempre magrinho, cabelos grisalhos, com seu paletozinho cinza, sapatos pretos e camisa branca, ele aparecia nessas reuniões, como se fosse da família e participava de todas as conversas, fumando seu cigarrinho, contando histórias difícies de entender, pois o que ele falava em estado normal já era difícil, bêbado então...

Fato é que nunca vi o Tom cantar, nunca vi tocar piano, e ele sequer falava no Charlie Brown, mas era olhar pra ele e ver Benito di Paula. Na verdade, eu sempre tive a certeza de que ele era realmente o Benito e até achava legal ele ir ao meu aniversário, viajar com a gente (eu acho que ele viajou uma vez, mas não lembro), tipo: “O Benito di Paula foi ao meu aniversário, não é o máximo?!”

Enfim, o tempo passou, as reuniões aos finais de semana pararam de acontecer, Tio Damas e Vi faleceram, Tio Zé mudou, Tia Neyde mudou, não dá mais pra ficar sentada na rampa brincando, a “Porta da Esperança” não passa mais, Tom sumiu e, com ele, Benito di Paula.

Na realidade, outro dia, ele apareceu na TV, mas não era mais o mesmo, faltava o piano, o paletozinho, parecia mais um velhinho decrépito do que o amigo do Charlie Brown... Talvez seja porque o meu Benito di Paula nunca tenha sido aquele da TV, mas só o nosso amigo Tom.

Disseram que sou eu quando pequena. Será?